sexta-feira, janeiro 28, 2005

Texto: Viver Não Dói

(Carlos Drummond de Andrade)

Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas
e não se cumpriram.

Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer,
apenas agradecer por termos conhecido
uma pessoa tão bacana,
que gerou em nós um sentimento intenso
e que nos fez companhia por um tempo razoável,
um tempo feliz.

Sofremos por quê?

Porque automaticamente esquecemos
o que foi desfrutado e passamos a sofrer
pelas nossas projeções irrealizadas,
por todas as cidades que gostaríamos
de ter conhecido ao lado do nosso amor
e não conhecemos, por todos os filhos que
gostaríamos de ter tido juntos e não tivemos,
por todos os shows e livros e silêncios
que gostaríamos de ter compartilhado,
e não compartilhamos.

Por todos os beijos cancelados,
pela eternidade.

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante
e paga pouco, mas por todas as horas livres
que deixamos de ter para ir ao cinema,
para conversar com um amigo,
para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe
é impaciente conosco,
mas por todos os momentos em que
poderíamos estar confidenciando a ela
nossas mais profundas angústias
se ela estivesse interessada
em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu,
mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos,
mas porque o futuro está sendo
confiscado de nós, impedindo assim
que mil aventuras nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos e
nunca chegamos a experimentar.

Como aliviar a dor do que não foi vivido?


A resposta é simples como um verso:


Se iludindo menos e vivendo mais!!!


A cada dia que vivo,
mais me convenço de que o
desperdício da vida
está no amor que não damos,
nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca,
e que, esquivando-se do sofrimento,
perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável.

O sofrimento é opcional.


Esse belíssimo texto-verdade foi-me enviado por uma pessoa que me ama incondicionalmente... Obrigada, meu querido pai... Amo você!

2 compartilhando!

Anonymous Anônimo ,

Eu amo Drummond, e amo esse texto em particular. Acho essa frase que o sofrimento é inevitável e a dor opcional um verdadeiro achado!!
Adorei ter conhecido seu pai, de uma certa forma me deu saudades do meu...
beijos pra vc!
Jeanne

fevereiro 13, 2005 12:36 AM  
Blogger Luana ,

Eu sei, amiga... Mas ele está com vc, sempreee!!! Tenha força...
Brigada pela visita... Bjosssss

fevereiro 13, 2005 12:47 AM  

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